Eu já visitei as cavernas de São Paulo (PETAR e Intervales) e algumas tantas em outros países. Mas até agora nenhuma se igualou em beleza, exuberância e nível de aventura às cavernas do Parque Estadual de Terra Ronca (PETeR), nos municípios de São Domingos e Guarani de Goiás, em Goiás.
O Parque Estadual de Terra Ronca, com 57.000 hectares, foi criado em 1989. Se você é aventureiro e adora trilhas aconselho fortemente a visita a esse paraíso de cavernas. No PETeR encontrei formações que jamais vi em outras cavernas.
Fora isso, o local abriga 7 das 30 maiores cavernas do Brasil, sendo um dos maiores complexos de cavernas da América Latina. São mais de 200 cavernas secas e 60 molhadas. Aliás, o local tem esse nome porque diz-se que a terra ronca, seria o som dos rios dentro das cavernas. A maioria delas destina-se apenas a pesquisadores, e não ao turismo. Para esta finalidade, há 17, sendo 11 delas grandes complexos de diferentes níveis de dificuldade.
Chegar também exige um tanto de aventura. A melhor maneira de visitar é alugando um carro em Brasília, a 385 km de distância. Para minha empreitada, como saí à noite na véspera de um feriado, resolvi dormir na cidade de Posse, a 311 km de Brasília. Isso porque é a última cidade que se chega por estradas asfaltadas tranquilamente.
Já de Posse até a Terra Ronca são 74 km, percorridos em 1,5h a 2h em estrada de terra com alguns trechos meio chatos de passar. Portanto, duas considerações aqui:
- eu aluguei um carro simples, de passeio, para essa aventura (mas não pode ser um carro muito baixo). Porém, o percurso exigiu um pouquinho de experiência em dirigir em estradas de terra e, às vezes, trechos curtos com areia. Mas o carro passou em todos os lugares.
- no entanto, aconselho a ir nos meses centrais do ano, época que chove menos, pois realmente não sei se é possível passar com um carro pequeno por essas estradas se tiver chovido. Quando fui, em setembro, estava tudo muito seco, o que deu condições melhores tanto para dirigir quanto para os passeios. (Lembre-se também de que, como as cavernas visitáveis e mais legais têm rios dentro, seria impossível e/ou perigoso visitá-las em períodos chuvosos.)
Para visitar a Terra Ronca é necessário contratar um guia, e o mais experiente da região é o senhor Ramiro. Preferi escolher o mais conhecido e que treinou muitos outros guias da região. No entanto, caso você precise, há muitos guias bons e as pousadas na região podem fazer boas indicações.
Um parêntese importante aqui é que não há internet ou sinal de celular na região, e muitas vezes o contato é um pouco difícil. Por isso, tenha paciência, geralmente as pessoas na região precisam se deslocar até alguma cidade que tenha sinal para responder os e-mails, e acabam fazendo isso apenas 1 vez por semana, ou a cada 15 dias.
Eu contatei o senhor Ramiro por e-mail (ramiroterraronca@gmail.com) muitos meses antes da data pretendida, e ele me orientou a avisar mais próximo da minha ida. Ao enviar um e-mail, já vem uma resposta automática bem explicada com os preços de tudo (o custo-benefício é ótimo, mas para valores atualizados escreva um e-mail e/ou entre no site dele).
Com ele combinei os passeios e minha hospedagem. O senhor Ramiro e sua família recebem hiper bem os turistas! Eu e meus amigos fomos muito bem tratados. Ele tem uns quartos para receber as pessoas e área de camping, mas ressalto que é beeem simples. Porém, é tudo o que eu precisava. Fora isso, a família dele faz refeições caseiras hiper bem-vindas depois dos passeios, é bom demais!
Se você quiser um pouco mais de conforto, há algumas pousadas próximas, como a Pousada Terra Ronca e várias outras.
Voltando ao relato, após dirigir de Brasília até Posse, dormi numa ótima hospedagem na cidade, com um café da manhã delicioso. Chama-se Hotel Campina (site e Facebook).
Meu passeio na Terra Ronca durou 4 dias. Eu escolhi fazer o deslocamento maior na véspera, mas seria possível sair de Brasília MUITO cedo, ainda de madrugada, e fazer esses mesmos passeios se você tem 4 dias (lembre-se de que gastará cerca de 5h a 6h de estrada no total, então é meio cansativo). O mais tranquilo é fazer como fiz, dirigir até Posse, dormir por lá e sair cedo no dia seguinte para o trecho de estrada de terra.
Esta é a localização da casa do Ramiro. Para que tenha ideia do percurso todo, veja o mapa utilizado até a casa dele.
Após enfrentar a estrada de terra e nos instalar na casa do Ramiro, nos preparamos para a aventura. Uma curiosidade é que não achei as cavernas de Goiás geladas como as da região Sudeste. Todas que visitei exigiam cruzar rios ou estar na água grande parte do tempo, mas os rios dentro dessas cavernas não são tão gelados como os das cavernas do PETAR ou de Intervales.
De qualquer forma, é interessante que esteja com uma roupa de trilha e tênis que possa molhar (leve uma troca de roupa para deixar no carro). Outra coisa bem útil de levar é um saco estanque, para que carregue seus pertences que não podem molhar. E o mais imprescindível de tudo: uma boa lanterna e pilhas extras. Pode ser lanterna de mão e/ou lanterna de cabeça. Além disso, não se esqueça de levar água e lanchinho de trilha, e dinheiro para seus gastos lá. Apesar de não haver sinal de celular, há luz elétrica.
Seu Ramiro nos forneceu capacetes, e então saímos com um de seus guias para a primeira caverna. Dividi meus dias nas seguintes cavernas:
– Terra Ronca I e II
– São Bernardo
– São Mateus
– Angélica
Nossa primeira foi a Terra Ronca. Nessa caverna, nos dias 5 e 6 de agosto, acontece a romaria do Bom Jesus da Lapa de Terra Ronca. Da casa do Ramiro dá para ir a pé até a entrada, que é bem grandiosa: 96 metros de altura x 120 metros de largura. Ela é cortada pelo rio da Lapa, que tive que cruzar várias vezes (uma delas com água na altura da cintura, mas bem fácil de transpor com a corda fixa que há no local). A caverna Terra Ronca é dividida em I e II por conta de um desabamento ocorrido há milhares de anos. Um dos destaques é o salão dos Namorados, com formações lindíssimas de estalactites e estalagmites.
Em seguida fomos na Cachoeira da Palmeira, local próximo, mas foi preciso ir de carro. Pagamos 5 reais de entrada por pessoa e não há trilha. A cachoeira é linda e ótima para se refrescar, pois forma uma piscina natural bem tranquila.
No segundo dia fomos para a caverna São Bernardo. Os rios que passam por dentro dela são o Rio São Bernardo e o Rio Palmeira. Há uma boa descida para adentrá-la, e antes de descer pela dolina vimos lindas araras voando por sua entrada. A caminhada é quase o tempo todo dentro da água, e a visita vale muito a pena, vimos formações de caverna lindíssimas! O destaque é o salão das Pérolas, com pedras que lembrariam pérolas por causa do formato. Essa foi uma das cavernas que mais gostei!
Depois da caverna visitamos outra cachoeira próxima na Terra Ronca, também pagando 5 reais de entrada. Essa estava mais cheia de gente e parecia ter mais estrutura que a do dia anterior, e havia várias pessoas fazendo churrasco em suas margens. Apesar disso a visita foi agradável e proporcionou um bom banho.
No terceiro dia fomos à caverna São Matheus. Para chegar, a estradinha de terra era ruim e mais estreita, é um local bem escondido. Sem os guias seria impossível encontrar o lugar. Porém, a caverna vale o esforço. Ela é a segunda maior do Brasil (a primeira fica na Bahia), e o nível de aventura é maior ainda que nas outras cavernas. Para entrar, a gente desce por umas cordas através de uma passagem um pouco estreita, tem que ser uma pessoa por vez.
Em todo o tempo que caminhei dentro dessa caverna parecia que eu estava andando em um outro planeta! Ela é uma das cavernas com as formações mais raras do Brasil. Os guias orientam a ter o máximo de cuidado para não quebrar nada e andar sempre na área permitida. O rio que passa pela caverna é o rio São Matheus. Eram rochas que pareciam cristais gigantes, eram pedras calcárias que formavam figuras inimagináveis… foi a caverna que mais gostei de todas!
Saindo da caverna dessa vez fomos almoçar no povoado São João, que fica quilômetros depois da casa do seu Ramiro. É bem pequeno o povoado, são umas poucas casinhas. O legal é que há uma espécie de construção de madeira que serve como mirante, para vermos o relevo da região.
No dia seguinte, meu último dia, na parte da manhã fizemos a caverna Angélica. Nessa caverna achei a trilha um pouco mais fácil que as outras que conhecemos. Ela também tem formações grandiosas, mas foi uma caminhada mais tranquila, o que foi bom, pois à tarde iríamos pegar estrada de volta para Brasília. Um dos pontos altos dessa visita foi que uma parte do rio está represada, formando um reflexo perfeito das formações da caverna, e com as luzes da lanterna o guia fez um lindo show de luzes e reflexos. Nessa caverna não precisamos nos molhar.
Há várias cavernas que não visitei na região, como Lapa do Bezerra, São Vicente e outras, com diferentes graus de dificuldade. A São Vicente, por exemplo, é a mais radical, acessada por um rapel de 40 metros e possui 12 cachoeiras em seu interior, o que é considerado bem raro.
Se quiser ver fotos profissionais das cavernas da Terra Ronca, o estudioso e fotógrafo José Humberto M. de Paula tem essa página e fora isso há seu incrível livro de fotografia.
A Terra Ronca é um lugar muito especial, e se você gosta de cavernas deve visitar, pois é um dos locais mais lindos que já fui, com as formações mais diferentes e exóticas, um local quase intocado!
Parabéns pelo artigo! Muito bem detalhado! Terra Ronca será uma das minhas próximas viagens!
Que legal, vc vai adorar!! É um lugar incrível! Muito obrigada por visitar meu site. Tendo dúvidas pode perguntar. Volte sempre!
Oi Sabrina boa tarde, tudo bem? Gostaria de saber se consigo fazer a caverna Angélica e São Mateus no mesmo dia! Obrigada
A Angélica e a São Mateus não…. pq a São Mateus é mais demorada… A Angélica demora meio período, então talvez desse pra vc combinar ela com a Terra Ronca I e II… converse com seu guia, mas chegue cedo pra isso… Obrigada por visitar meu site e volte sempre!
Muito bom artigo! Parabéns!
Quanto tempo você recomenda para conhecer o local?
Oi! Olha, se você tiver uns 4 dias acho o ideal. Obrigada por visitar meu site e se tiver mais dúvidas, pode perguntar.
AMEI A MATERIA, SATISFEZ TODAS AS MINHAS CURIOSIDADES, PRETENDO CONTROLAR MEU MEDO DE COBRAS E CONHECER UM DIA. OBRIGADO
Oi, Lucia! Bom, eu não vi nenhuma cobra nos dias que estive na região. Recomendo a visita. Obrigada por visitar meu site e volte sempre!
Olá Sabrina, Descobri o local por acaso e já entrou no roteiro de 2021.
Rio de Janeiro > Jalapão > São domingos > Chapada dos Veadeiros.
Pelo que vi na web pouco explorado pelos brasileiros.
Suas dicas são super legais! Vamos alinhar as cachoeiras do roteiro com cavernas que curtimos muito , pena que não teremos muito tempo 🙂
Oi, Margareth! Que demais, esse seu roteiro parece perfeito, já que vc vai estar numa rota descendo pelo estado. Da Terra Ronca vc está próximo de Cavalcante, na Chapada dos Veadeiros, melhor pegar esse acesso. Sim, felizmente é um roteiro mais alternativo, e o lugar é lindo, vale bem a pena! Mas prioriza as cavernas mais bonitas que com certeza um pouco dá pra conhecer, tenho certeza de que vão amar! Se tiver qualquer dúvida, não hesite em perguntar, que ajudo tranquilamente a planejar o roteiro e deixá-lo redondinho. Tenham uma excelente viagem e voltem sempre a este blog! 🙂
Oiê! Que bom encontrar seu relato! Parabéns pela trip! Você poderia falar um pouco sobre o nível de dificuldade das trilhas para acessar os atrativos ou mesmo no interior das cavernas?
Oi, Mayara! Eu classifico a Angélica como nível fácil, e as demais de nível médio. As trilhas de acesso até as cavernas são tranquilas. Lá dentro consideraria nível médio somente porque é preciso ter atenção, a maioria dos trechos é caminhando por dentro da água, na maior parte na altura dos joelhos no máximo. As caminhadas não são longas, mas às vezes podem envolver cuidados em pisar corretamente nas rochas ao entrar e sair das cavernas, para evitar escorregar. Então, considero que qualquer pessoa sem dificuldade de locomoção, mesmo q sedentária, com a orientação dos guias, consegue fazer todas essas cavernas sem dificuldades. Espero ter esclarecido a dúvida, mas fique à vontade para perguntar se tiver mais questionamentos. Muito obrigada por visitar meu site, te convido a ler outros relatos e a curtir minha página no Instagram: @embarquepromundo
Nossa!! Adorei!!Parabens Sabrina pelo seu trabalho. Muito completo o seu relato! Ajudou muito. Obrigada pelas dicas!
Oi, Camilla! Muito obrigada, espero que sua viagem seja/tenha sido perfeita! Muito obrigada por visitar meu site e volte sempre!
Oie Sabrina estou planejando uma viagem em família para Terra Ronca I e II no mesmo dia ou no final de semana, acha que o trajeto dentro das cavernas é possível de ser realizado por uma criança de 12 anos ?
Oi, Ana Carolina! Eu acho que dá sim…. lembrando que todas as cavernas têm trechos de água a atravessar, mas se a criança for obedecendo direitinho o guia não há com o que se preocupar e, se for aventureira, vai curtir bastante!
Oi Sabrina. Adorei o post, muito obrigada pelas informações. Você sabe dizer se o valor do guia Ramiro, que está no site, ele cobra por caverna ou por dia? Caso eu queira fazer mais de uma por dia. 🙂
Oi, Patrícia! Poxa, muito obrigada por visitar meu site 🙂
Ele cobrou por dia de guia. Mas eu sugiro que escreva no e-mail dele (ramiroterraronca@gmail.com) para confirmar se estão operando no momento, se houve alguma atualização de valor e se é possível encaixar o roteiro que você pretende fazer em cada dia. Boa viagem e volte sempre a este blog!
achei bonitas estas formações mas as cavernas do PETAR tem muitc coisa linda e tem 400 cavernas, cachoeiras dentro da caverna rio dentro da caverna caverna do diabo a mais linda de todas,então p valorizar um lugar n precisa depreciar a outra, eduardo aki de eldorado-sp
Oi, Eduardo! Com certeza as cavernas do PETAR também são maravilhosas e adoro visitar o parque sempre que posso. Mas realmente essas da Terra Ronca me encantaram muito! Todas essas regiões de caverna do Brasil todo são lindas mesmo!
EU AMEI <3
Oiii Sabrina!
Amei a descrição, estou louca para visitar já!!
Adotei seu artigo, belas dicas, meu sonho conhecer esse parque.