Planejar um roteiro pela Chapada Diamantina não é fácil. Isso porque a região tem tantas opções de passeios que seria preciso muito tempo para conhecer tudo. Também, com cerca de 152 mil hectares não é fácil escolher o que fazer! Administrado pelo ICMBio, o parque faz limite com os municípios de Lençóis, Mucugê, Ibicoara, Andaraí, Itaetê e Palmeiras, mas é composto por dezenas de outras cidades.
Além das belezas naturais da região, no passado o local teve exploração de ouro e de diamantes, e o legado foi uma rica arquitetura tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) nas principais cidades. O Parque Nacional da Chapada Diamantina (PNCD) foi criado em 1985 e tem grande importância na conservação da biodiversidade da região. Com seus cânions, cachoeiras, cavernas e montanhas, o Parque tem mais de 30 trilhas divididas entre seus municípios. A Chapada Diamantina pode ser visitada o ano todo, mas, geralmente, entre maio e outubro haverá menos chance de chuva. De novembro a janeiro pode chover mais, mas terá mais água nas cachoeiras, e de fevereiro a abril é a época que a vegetação estará mais verde.
COMO CHEGAR
Muitas pessoas chegam por voo em Salvador e alugam um carro para percorrer os 417 km que separam a capital do município de Lençóis (aliás, se você tiver a cidade de Lençóis como base, prepare-se para ouvir muitas vezes questionamentos sobre os Lençóis Maranhenses: nããão, é Lençois na Bahia rs). Estar de carro na Chapada Diamantina permite um melhor deslocamento entre suas cidades e entre os atrativos que não precisarem de um guia. Porém, muitas vezes só compensa se estiver com pelo menos 4 pessoas no carro para dividir os custos.
Outra maneira de chegar é por um voo da Azul que opera algumas vezes por semana de Salvador até o aeroporto de Lençóis.
A maneira mais econômica se estiver sozinho ou em 1 ou 2 pessoas é vindo de ônibus com a Real Expresso, percurso que leva 6h (de Salvador a Lençóis). O mapa a seguir mostra o acesso e as principais cidades:
Planeje seu roteiro antes de reservar sua hospedagem, pois dificilmente você conhecerá a Chapada inteira numa primeira visita. Algumas pessoas utilizam somente Lençóis como base e todos os dias fazem bate-voltas para as outras regiões, o que é possível tanto de carro quanto com agências locais. Outras dividem suas hospedagens entre algumas cidades diferentes dependendo dos roteiros que escolherem. Esta opção é mais viável se estiver de carro, pois o transporte público na região não é muito regular. Além disso, há algumas agências na região que fazem transfer entre cidades. Para seu planejamento, o mapa abaixo mostra as principais localidades:
Eu fiz da primeira maneira, me hospedei em Lençóis, local com a maior infraestrutura da região, e fechei todos os passeios com minha hospedagem, o Hostel Chapada. Lençóis conta com um belo casario do século XIX tombado pelo IPHAN. É muito agradável passear pela cidade e, depois dos passeios, escolher um dos restaurantes na cidade histórica. Estive na região por 6 dias, e usei mais 1 dia para vir de ônibus e outro para voltar. Acredito que menos de 4 dias inteiros na região não compensa, e se você tiver muito mais dias, melhor ainda.
Meu roteiro foi assim:
- Dia 1: Cachoeira e Poço do Diabo, Morro do Pai Inácio, Fazenda Pratinha, Gruta da Lapa Doce.
- Dia 2: Cachoeira da Fumaça e Riachinho.
- Dia 3: Poço Azul e Cachoeira do Mosquito.
- Dia 4: Cachoeira do Buracão e Cemitério Bizantino.
- Dia 5: Cachoeira do Sossego e Ribeirão do Meio.
- Dia 6: Piscinas do Serrano, Salão de Areias, Cachoeirinha, Cachoeira da Primavera e Poço Halley.
Dia 1
Em meu primeiro dia iniciamos o passeio até o Rio Mucugezinho, a 20 km de Lençóis. Chegando lá, foram apenas 400 metros de trilha fácil caminhando até a Cachoeira e Poço do Diabo. É uma pequena cachoeira, com poço agradável para nadar e há também uma tirolesa no local. A entrada é gratuita.
Depois, seguimos até o cartão-postal da Chapada, o belíssimo Morro do Pai Inácio, já a 30 km de Lençóis. A trilha para acessá-lo é fácil também, apesar de ter uma pequena subida, com duração de uns 20 minutos. É lá que os guias contam a lenda do Pai Inácio, mas se você tiver ido de carro e estiver sem guia pode conhecê-la aqui. Para entrar no Morro do Pai Inácio há uma taxa de R$ 6,00. A vista é excepcional, a mais linda da Chapada! Ele tem 1.120 metros de altura e é um passeio que não pode faltar! Algumas pessoas visitam no por do sol, mas se for fazer isso, fique atento ao horário máximo de entrada, às 17h.
Em seguida fomos à Fazenda Pratinha, que fica a cerca de 40 minutos de carro do Morro do Pai Inácio (cerca de 22 km de distância), já no município de Iraquara (pouco menos de 50 km de Lençois). A entrada no complexo custa R$ 30,00. Lá você pode visitar a Gruta da Pratinha e a Gruta Azul. É possível fazer flutuação (R$ 40,00) ou alugar um caiaque (R$ 10,00), mas não é necessário se quiser economizar, só caminhar pelo local já compensa. O lugar é lindo, as águas são muito azuis, achei que a visita vale a pena! A Gruta Azul já não achei tão interessante, ela é somente para observação, não podendo nadar em suas águas. Nos meses centrais do ano a observação desse tipo de formação de gruta com água azul é mais interessante, pois é quando os raios de sol iluminam o local, “acendendo” a água.
Perto dessa Fazenda Pratinha está a Gruta da Torrinha e a Gruta da Lapa Doce. Não visitei a Gruta da Torrinha, mas a trilha é um pouco mais intensa (chegando a 2,5 horas). Em meu tour segui para a Gruta da Lapa Doce, com trilha fácil de 850 metros. Ela possui várias formações de caverna e o valor de entrada é de R$ 30,00. Acho que para quem já visitou outras cavernas antes, talvez essa seja meio sem graça, nesse caso indico a Gruta da Torrinha, que é para viajantes mais exigentes no quesito cavernas. Aqui estão mais informações sobre as grutas da região.
Apesar de fazer com agência, se você estiver de carro é possível fazer tranquilamente todo esse roteiro do meu primeiro dia por conta própria.
Dia 2
No segundo dia saí bem cedo para visitar a Cachoeira da Fumaça, segunda maior cachoeira do Brasil, com 380 metros de altura. Ela na região do Vale do Capão, a cerca de 72 km de Lençóis (apesar de a cachoeira em si ficar a 36 km de Lençóis, o início da trilha está a 72 km), por isso algumas pessoas dormem no local e combinam com outras atrações próximas. Para esse passeio aconselho a buscar um guia local para a trilha no Vale do Capão, que dura aproximadamente 5h ida e volta (mais ou menos 12 km o total). Acho a trilha de nível médio, não só pela distância, mas porque na volta os joelhos sofrem um pouco com a descida (havia cabos de vassoura na entrada da trilha à disposição para os caminhantes). No meu caso, já saí com o guia desde Lençóis. Você pode buscar seu guia na Associação dos Condutores de Viajantes do Vale do Capão (site e Facebook).
Uma dica muito importante para esse passeio é que essa cachoeira é sazonal, ou seja, ela não tem água o ano todo. Em alguns períodos do ano ela fica seca, outros tem pouca água, chegando a formar uma “fumaça”, aquele fenômeno que a água “vai para cima”, pois é levada pelo vento. Fui no verão, então tive a sorte de ela estar com água e muito bonita, além de pegar a bela vista do morro de 400 metros de onde ela cai. Se ela estiver seca esse passeio não vale a pena, portanto, informe-se com seus guias e hospedagens sobre o estado dela quando for.
Logo depois da Cachoeira da Fumaça seguimos para o Riachinho (R$ 6,00 de entrada), uma pequena e bela cascata que oferece um banho revigorante depois da caminhada. Para essa cachoeira são somente 10 minutos de caminhada. Na região ainda existem outros atrativos que não visitei e seriam interessantes se eu tivesse me hospedado por lá, como: o Rio Preto e a Cachoeira das Rodas, a Cachoeira da Purificação e Angélica, a trilha para Águas Claras (de onde se avista o Morrão – parece ser lindíssima), o Morrão (que é uma trilha mais difícil), o Poço do Gavião e a trilha do Gerais do Vieira. Além disso, de lá saem: a travessia do Vale do Capão até Lençóis (25 km feitos em 1 dia), a famosa travessia do Vale do Paty (de 3 a 5 dias, incluindo a visita ao Cachoeirão Grande do Paty, com 280 metros de altura) e a Fumaça por baixo (de 3 a 5 dias). Para todas essas, você pode consultar a Associação dos Condutores de Viajantes do Vale do Capão.
Dia 3
Em meu terceiro dia fui para o Poço Azul (R$ 30,00 de entrada), na região de Nova Redenção, a 87 km de Lençóis. Nessa área também está o Poço Encantado (R$ 30,00 entrada), a mais 88 km de lá, em Itaetê. Assim como na Gruta Azul, que fui no primeiro dia, os melhores meses para apreciar a entrada de luz que deixa a água azul são de maio a setembro. No Poço Encantado é proibido nadar, por isso fui no Poço Azul, o único que permite o banho. Muitas pessoas dormem em Igatu ou Andaraí para visitar essas atrações, e outras, que tiveram base em Lençóis todos esses dias, combinam o Poço Azul com a Cachoeira do Buracão, dormindo em Mucugê apenas nessa noite e aí vira um passeio de 2 dias.
A visita ao Poço Azul dura meia hora e são fornecidos snorkel e colete para a flutuação. O espaço tem 20 x 40 metros e pode chegar a até 20 metros de profundidade. Dizem que no local foram encontradas várias ossadas pré-históricas. Só digo que é um lugar deslumbrante, a cara da Chapada!
Voltando para Lençóis, segui para a Cachoeira do Mosquito, a 40 km da cidade (R$ 15,00 de entrada). Ela tem esse nome por causa dos mosquitos, que eram os pequenos diamantes encontrados na região (não tem mosquito de verdade rs). A trilha é fácil, cerca de 20 minutos de caminhada. A queda d’água é linda, tem 60 metros de altura e fica no meio de uma formação que parece um cânion, tornando a aproximação a ela deslumbrante. Achei imperdível!
Dia 4
Em meu quarto dia fiz um dos passeios mais esperados e, das atrações que visitei, a mais linda: a cachoeira do Buracão, com 90 metros de altura. Como ela fica distante de Lençóis (200 km), muitas pessoas fazem um roteiro de 2 dias, às vezes combinando com o Poço Azul, como mencionei acima (dormindo em Mucugê, a 98 km da Cachoeira do Buracão). Ela fica no município de Ibicoara, no Parque Municipal do Espalhado (R$ 6,00 de entrada). Como isso encareceria minha viagem, pois não estava de carro e já estava com a noite paga em Lençóis, optei por um bate-volta, sendo necessário sair muito cedo e voltar tarde. Porém, isso barateou meu roteiro com a agência do hostel.
Caso você tenha ido com carro próprio, é necessário contratar um guia na associação local para esse passeio (você pode contratar na Associação Bicho do Mato, site, e Facebook, ou na Associação dos Condutores de Visitantes de Ibicoara). A trilha é fácil, são 3 km ao longo do Rio Espalhado passando pela Cachoeira das Orquídeas e a do Recanto Verde até o Cânion do Buracão. Chegando no cânion, há coletes salva-vidas e é necessário entrar no rio, contornando o cânion por 150 metros. Em alguns metros você terá o mais lindo vislumbre dessa maravilhosa cachoeira. Daria para caminhar pelas pedras laterais para acessar a cachoeira, porém é meio escorregadio, e é melhor só sentar nas pedras quando chegar, indo pela água mesmo (não precisa ter medo caso não saiba nadar, pode ir se segurando pelas pedras conforme flutua). Na volta você ainda pode apreciar a cachoeira do Buracão do topo. Essa cachoeira está no top 5 de cachoeiras de muita gente, uma das mais lindas da Chapada, não deixe de ir!
Na volta para Lençóis, passamos ainda no Cemitério Bizantino, próximo de Mucugê. Ele fica na beira da estrada e a visita é rápida. É um local curioso, pois data do século XIX e todas as esculturas são bem branquinhas, mais parecem miniaturas de igrejas.
Muitas pessoas dormem na região de Ibicoara (povoado do Baixão) para conhecer a Cachoeira da Fumacinha num roteiro de 2 dias combinado com a Cachoeira do Buracão. Eu não consegui fazer essa trilha, pois não havia grupo disponível para acompanhar no dia. Ela parece ser espetacular, mas é de nível difícil, são 18 km ida e volta (umas 9h de caminhada) por cima de pedras no leito do rio. Ainda vou retornar à Chapada para conhecer essa cachoeira de 100 metros de altura. Você pode agendar um guia no mesmo local que indiquei acima, para a cachoeira do Buracão.
Dia 5
Em meu quinto dia contratei um guia em Lençóis, com meu hostel, e fui à Cachoeira do Sossego. Nessa dá para ir a pé da cidade em meio período. A trilha toda é pelo leito do rio e, honestamente, apesar de ela ser bonita, não achei que o visual compensou a caminhada, bem complicada por conta das pedras escorregadias do rio. Na volta passamos no Ribeirão do Meio, um grande tobogã natural, que estava um pouco cheio, com pessoas fazendo piquenique e churrasco. No Ribeirão do Meio dá para ir sem guia e fica bem perto da cidade se quiser ir somente lá.
Dia 6
Já no meu sexto dia fiz outra trilha a pé saindo de Lençóis, mas não contratei guia. Como o local estava relativamente cheio, fui perguntando para as pessoas o caminho e foi tranquilo. O início da trilha é perto do Hotel Portal de Lençóis. Esse passeio durou meio período e visitei as Piscinas do Serrano, o Salão de Areias, a Cachoeirinha, a Cachoeira da Primavera e o Poço Halley. São 6 km, mas é um local que enche um pouco por conta do fácil acesso e por ser gratuito. O serrano forma pequenas piscinas naturais e tem uma boa vista da cidade. As demais cachoeiras são pequenas. Acho que esse passeio compensa se você tiver um dia livre sobrando. Do contrário, achei muito simples comparado às outras atrações da Chapada.
Faltaram ainda muitos passeios para fazer na Chapada Diamantina, como o Marimbus (mini Pantanal, um passeio de barco pelo rio Roncador), a Serra das Paridas (pinturas rupestres), a Cachoeira do Mixila (trilha de 2 ou 3 dias), as cachoeiras que ficam em municípios fora de Lençóis: em Igatu tem a Cachoeira da Califórnia, a Cachoeira das Cadeirinhas, a Cachoeira das Pombas; em Mucugê e Ibicoara tem o Projeto Sempre-Viva, a cachoeira Tiburtino, a Cachoeira Piabinha; no Vale do Capão tem a cachoeira Conceição dos Gatos; e muitos outros atrativos! E é claro, também voltarei para conhecer a Cachoeira da Fumacinha e a travessia do Vale do Paty e os passeios que mencionei próximos ao Vale do Capão.
- Tirando a cachoeira da Fumacinha e talvez as travessias de mais de 1 dia, em todos os passeios considero fácil ir sozinha, pois os grupos se formam e se juntam entre as agências em Lençóis, elas mesmas resolvem isso.
- Não aconselho visitar a Chapada Diamantina nos períodos do Ano Novo e Carnaval, realmente lota muito.
- Na Chapada Diamantina há um prato típico preparado com um cacto chamado palma. Come-se desde palma cozida até como recheio de pasteis e salgados.
A Chapada Diamantina é essencial na listinha de todo amante de ecoturismo!
Amei as dicas. Pretendo ir em janeiro sozinha. Vou salvar todas as suas dicas.
Eletiele, vc vai amar a Chapada, é incrível! Qualquer coisa me pergunta, tá? E obrigada por acessar o blog! Volte sempre!
Olá,
Se eu tiver com meu roteiro montado, chegando lá consigo achar fácil guias?
Consegue sim, o que não falta é agência oferecendo para levar aos lugares que quiser!
Obrigada por visitar o blog e volte sempre!
Ótimas dicas Sabrina. Ajudou muito meu planejamento. Estou indo na próxima quarquarta-feira e vou aproveitar parte do seu roteiro. Abraço
Que ótimo, feliz em ajudar! Curta muito a trip e obrigada por visitar o blog!
Muito obrigada por compartilhar. Você acha q gasta mais ou menos quanto?
Oi, Taneska! Então, depende de quais passeios vc vai fazer… quando eu fui gastei uns 800,00 com passeios pra 1 semana, fechados todos na minha hospedagem… mas pq fiz alguns passeios mais caros, como Buracão… sugiro que entre em contato com sua hospedagem para orçar os passeios, caso vá fazer com guia…
Oi, Sabrina! To fazendo minhas pesquisas sobre a Chapada e me encantei mais pelo Capão, mas como vou de onibus, vc acha melhor ficar em Lençois? pq a maioria das trilhas partem de lá, certo? e o capão, tem as trilhas tb muito legais… não sei o q faça kkkkk
e outra coisa: se n contratar guia pra algumas trilhas (partindo do capão), vc acha q rola? n vou morrer la perdida? kkk obrigada!
Oi, Karolina! Então, sugiro que vc localize as trilhas em algum mapa online e veja a distância da estrada, para verificar se são trilhas curtas. Há cachoeiras menores que dá pra ir por conta sim. A cachoeira da Fumaça é recomendado guia, mas vi gente sem guia lá. Porém, seria legal se vc tivesse um mapa offline da trilha para garantir (como o app Wikiloc por exemplo) ou maps.me. Agora, por exemplo, para trilhas maiores, como a cachoeira da Fumacinha ou o vale do Pati, é imprescindível que contrate um guia. Eu acho legal ficar em Lençois dependendo de quantos dias vc tem no total. Se tem bastante, pode tranquilamente dividir a estadia em várias partes da Chapada. Caso precise, a Real Expresso: 0800 883 8030, http://www.realexpresso.com.br, faz o percurso de Lençois a Palmeiras (de lá ao Capão há algumas rurais casadas com os horários dos ônibus). Se tiver mais dúvidas pode escrever. Obrigada por visitar o site e volte sempre!