Pucón é uma daquelas cidades que concentra uma dose certa de charme e aventura, além de ter paisagens espetaculares. A cidade chilena fica na região da Araucania, a 780 km ao sul de Santiago (leia meu roteiro de Santiago) e oferece atrações durante todo o ano.
Um dos grandes objetivos dos viajantes ao visitar Pucón é a ascensão ao vulcão Villarrica, com 2.847 metros de altitude, cujo cume sempre está coberto de neve. O Villarrica é um vulcão ativo, e sua última erupção ocorreu em março de 2015, sendo que a anterior foi 30 anos antes. Mas não se preocupe, ele é super monitorado, e quando vai ocorrer uma erupção, sabe-se com um tanto de antecedência, segundo os guias locais (diferente do vulcão Calbuco, também na região, que explode sem aviso conforme os guias disseram). Porém, para ficar alerta aos vulcões do Chile, fique de olho neste site.
Se você não for subir ao vulcão, pode fazer caminhadas mais leves ou médias nos parques da região, curtir a cidade, aproveitar as muitas termas de águas quentes, curtir as praias de lagos e as cachoeiras, fazer esportes náuticos e muito mais! Pucón é bem democrática!
Fiquei três dias na região, durante o verão, mas a cidade concentra uma grande quantidade de atrativos, o que é suficiente para preencher bem mais dias. Como Pucón é pequena, é possível hospedar-se em qualquer parte dela, e há hospedagens para todos os bolsos.
Na cidade mesmo você consegue ver o vulcão Villarrica ao fundo, com sua fumarola constante saindo do cume, o que deixa ela ainda mais linda e torna a sessão de fotos frequente. Além disso, na Avenida Bernardo O’Higgins há um semáforo de alerta vulcânico, que, felizmente, estava verde ao longo de minha visita. No final dessa avenida principal você chega à baía de La Poza, de onde saem passeios de barco.
A ascensão ao vulcão Villarrica depende das condições climáticas (se chover ou ventar em excesso não dá para fazer o passeio), por isso eu quis garantir o tour no primeiro dia, pois se o tempo estivesse ruim ainda teria mais 2 dias. Muitas pessoas pegam um dia para caminhar pela cidade, pois na rua principal, a charmosa Avenida Bernardo O’Higgins, há muitas agências para fechar os tours, podendo assim comparar preços e conhecer as diversas agências. Porém, eu ouvi relatos de gente que tentou fechar a ascensão ao Villarrica lá em Pucón e não tinha mais vaga. Como era muito importante para mim conseguir subir e eu chegaria mais de 22h na véspera dos meus 3 dias, resolvi fechar pela internet esse passeio.
Pesquisando as opções fechei com a agência Antü, Ríos y Montañas (veja os preços no site). Ela não é a mais barata de todas, mas foi muito bem recomendada.
Como chegar? O jeito mais rápido de chegar a Pucón é pegar um voo para a cidade de Temuco, a 120 km de distância. Os voos que vão para Temuco fazem conexão em Santiago, o que possibilita um stopover na cidade, ou seja, que você fique um ou mais dias na sua conexão, aproveitando, assim, mais de um destino (para isso, na hora de comprar a passagem, selecione a opção Multidestinos).
A partir de Temuco, você pode pegar um transfer, alugar um carro ou pegar um ônibus. Pesquisei algumas empresas de transfer, como a Transfer Temuco, a Politur e a Transfer Aeropuerto Temuco, mas não reservei nenhuma antes, acabei chegando no aeroporto e no desembarque elas estavam oferecendo esse transfer, que custou cerca de R$ 50,00.
Porém, se tivesse alugado um carro teria mais liberdade para fazer alguns passeios e ficar o tempo que quisesse nos lugares, opção que me agrada bastante.
Outra ideia seria pegar um táxi para a rodoviária de Temuco e de lá comprar uma passagem de ônibus com a Buses JAC. Na volta eu fiz isso, há muitos horários.
Se você não quer pegar voo para Temuco, pode também pegar um bus em Santiago direto para Pucón, opção que levará cerca de 10 horas de viagem. Uma das principais empresas que faz o trajeto é a Turbus, e a própria Buses JAC também faz, além da Pullman Bus. A vantagem é que o valor é ótimo, apesar de serem muitas horas de viagem.
Além disso, muitas pessoas incluem Pucón numa road trip passando de carro alugado por muitas cidades saindo de Santiago.
Quando ir? No inverno funcionam as estações de esqui e snowboard, apesar de nem sempre se conseguir subir ao Villarrica em razão das condições climáticas (chove muito nessa época!) e os passeios ficarem mais restritos. É bom para quem gosta de curtir o frio. Já no verão a ascensão é mais certa, além de ter a possibilidade de curtir as diversas praias dos lagos da região e fazer muitas caminhadas e esportes ao ar livre. Já as inúmeras termas podem ser curtidas em qualquer época do ano.
O meu roteiro
Dia 1, o Villarrica. Após pegar o transfer e chegar a Temuco mais de 22h, o dono da agência Antü passou em meu hostel para me levar à agência e experimentar as roupas do trekking do dia seguinte. Ele fez questão disso, pois teríamos que sair muito cedo no dia seguinte e as roupas e o calçado precisavam estar no tamanho certo. Gostei muito da preocupação dele com isso, mesmo tão tarde ele me atendeu. Experimentei calça e casaco impermeáveis e um tênis de trilha bem mais duro que o normal, apropriado para a neve.
Para subir o vulcão Villarrica é necessário ter um mínimo de condicionamento, mas sobretudo ter muita disposição para caminhar numa subida íngreme e vontade de alcançar o cume. Eu não sou nem sedentária e nem atleta, e consegui.
Por e-mail, a agência fez algumas recomendações: levar comida e pelo menos 2 litros de água, usar uma calça confortável para trekking, blusa segunda pele e blusa de frio por cima, além de um corta-vento, protetor solar e óculos escuros.
Saímos às 6h da manhã e fomos para a agência, onde estava separado meu equipamento e o restante do grupo que me encaixaram e mais os guias me aguardavam. Foram uns 3 ou 4 guias conosco e uns 10 turistas. O equipamento consistia em uma mochila para carregar minhas coisas, a calça e o casaco impermeáveis, capacete, perneiras, luvas, um plástico para sentar, grampões de caminhar na neve (veja mais sobre grampões no meu relato de El Calafate), tênis apropriado, meias, uma máscara para ajudar a respirar lá em cima e piolets (um tipo de picareta para neve).
Depois seguimos de van para o Parque Nacional Villarrica, a 20 km de Pucón. Muitas pessoas que não vão fazer a ascensão ao vulcão vão para esse parque apenas para ver o vulcão mais de perto, e isso pode ser feito com agência ou com carro alugado.
Chegando no parque, na base do vulcão há um teleférico que economiza 1 ou 2 horas de caminhada, mas que só funciona se não houver vento. O valor é de 10.000 pesos chilenos, mas para mim valia cada centavo e cada minuto a menos de caminhada na subida!
O início da caminhada foi mais tranquilo, estava sem neve, apesar de ser subida. Quando alcançamos o trecho com neve o guia nos instruiu sobre com usar os piolets. Caminhávamos na neve numa trilha que os guias demarcaram em zigue-zaque.
Nessa parte que eles demarcavam com seus piolets a neve estava bem firme, pisávamos em suas pegadas, e por isso o caminho não estava nem um pouco escorregadio. Isso foi bom porque me senti segura para andar sem achar que poderia cair. Além disso, usávamos o piolet como um bastão de caminhada, me apoiando.
Fizemos algumas paradas para comer os lanches de trilha e descansar da subida. A segunda parte era mais íngreme e eu precisei das paradas, pois a subida me deixou sem fôlego e me fazia caminhar muito devagar. Porém, os guias viam minha vontade de continuar e me incentivavam, achei eles ótimos! Isso porque ouvi que várias pessoas costumam desistir no meio do caminho. Mas não seria eu! Tem algumas trilhas na vida que são mais vontade do que condicionamento.
A última parte tinha muitas pedras e estava sem neve, apenas com gelo preso nelas. Depois de umas 5 horas de caminhada e umas 4 paradas finalmente atingimos o cume do vulcão Villarrica! Que vitória!
O visual lá de cima é lindo, pois a paisagem lá embaixo é perfeita. Lá de cima conseguimos ver os caminhos que a lava escorreu na última erupção. Mas o principal é ver a curiosa cratera do vulcão, com 200 metros de diâmetro. O cheiro de enxofre é constante, por isso nessa hora quem não conseguir respirar direito deve colocar a máscara fornecida. Tem dias que o cheiro dos gases exalados da cratera é mais forte, e outros menos. Ouvi dizer que em alguns dias é possível ver a lava lá dentro da cratera (uma moça que conheci no caminho jura que é nos dias de lua cheia, mas não faço ideia!).
Depois chegou o momento de descer, e colocamos as roupas impermeáveis fornecidas. Isso porque para descer o vulcão usamos a famosa técnica do Skibunda! Há uns percursos marcados por onde escorregar, e nosso guia nos ensinou que se não estivesse escorregando o suficiente, para colocarmos o plástico para deslizar mais. Ele também nos orientou com usar o piolet para frear, caso estivesse rápido demais.Olha o vídeo do Skibunda, mas numa parte mais tranquila da descida:
É importante seguir bem as orientações dos guias, para fazer o trajeto todo em segurança. A primeira descida me pareceu a mais íngreme de todas, e morri de medo! Ia muito rápido, mesmo freando com o piolet. Porém, todos do grupo estavam se divertindo como se estivessem em um parque de diversões, eu que senti medo.
A descida era por etapas, porque no verão sempre tem trechos sem neve entre cada “rampa” com neve de descida. Isso me deixou mais segura, e a partir da segunda descida comecei a curtir, e elas eram menos íngremes que a primeira. No final tem uma parte só de cascalho para caminhar até a van. Gastamos cerca de 2 horas para descer. O papel dos guias foi fundamental, tanto por causa das explicações e segurança, como para incentivar a continuar, graças a eles subi o vulcão até o cume. Esse tour custou caro, cerca de 500 reais, mas valeu cada centavo! É obrigatório guia para esse passeio. No vídeo da agência você pode ver melhor como é essa subida:
Termas geométricas. Voltando do Villarrica, lá para as 16h, eu já tinha pedido à agência para agendar um transporte para me levar às Termas Geométricas. Isso porque as termas funcionam até umas 23h dependendo do dia, e como são bem quentes, nada como relaxar até tarde nas piscinas. No site tem as tarifas e horários atualizados. O local fica a 80 km de Pucón, e se estiver de carro alugado pode ir por conta. Na entrada nos deram uma toalha e um cadeado para trancar as coisas nos armários, e há vários vestiários e piscinas com temperaturas entre 35 e 45º. A água é uma delícia, e o lugar também é muito bonito! Para escolher entre as piscinas se caminha por uma passarela. O local conta também com uma lanchonete, bem legal para tomar um café, chá, chocolate, sopa etc. O duro foi sair, pois do lado de fora das piscinas faz muito frio!
Além das Termas geométricas, há muitas outras termas, como a Los Pozones, as de Coñaripe, El Rincón, Huife, Quimeyco, Liucura, Menetúe, Trancura, San Luis, Palguín, por exemplo.
Dia 2
Parque Nacional Huerquehue. Em meu segundo dia fui ao Parque Nacional Huerquehue, a 36 km de Pucón. Algumas agências vendem esse passeio, mas não precisa de guia realmente, e é fácil chegar de ônibus ou carro alugado. Os ônibus saem de Pucón às 08h30, 13h e 16h. E retornam do parque a Pucón às 09h30, 14h10 e 17h10. No verão tem um horário extra para ida às 18h20 e para volta às 19h30. Programe-se para não perder o ônibus. A passagem custa CLP $ 2.000, mas comprando ida e volta tem desconto. A entrada no parque também custa CLP $ 2.000. No parque há alguns campings e alojamentos, para quem deseja dormir lá, verifique no site as tarifas e como reservar.
O parque é lindíssimo, e tem 2 trilhas principais, autoguiadas, pois é tudo bem sinalizado. É ótimo para quem gosta de caminhadas. A trilha que escolhi se chama Los Lagos, e tem 12 km ida e volta e média dificuldade. Conte umas 6 horas para essa trilha no total. A outra trilha seria de alta dificuldade, chama-se San Sebastian e passa por cima das montanhas, seria uma vista de cima dos lagos. São 13 km, mas só de ida conta-se umas 4 horas. Veja essas e outras trilhas do parque aqui. Não se esqueça de levar água, comida e estar com calçado e roupa para caminhada.
A trilha passa por paisagens belíssimas. No início, perto da portaria, há alguns lagos com praia, onde é possível se banhar. Apesar de a trilha toda no fim ter bastante subida, não são subidas difíceis, e parando algumas vezes no caminho foi tudo bem. Passei pelo Lago Tinquilco e pelas cachoeiras Nido de Águilas e Trufulco. Há 2 mirantes onde é possível avistar o vulcão Villarrica. A trilha termina nos espetaculares Lagos Chico: lagos Verde, Chico, Toro e Huerquehue. É claro que me banhei nos lagos antes de retornar.
Chegando de volta a Pucón, aproveitei para conhecer a praia da cidade, a Playa Grande. As areias são negras, de origem vulcânica. Como estava calor a praia estava lotada.
Dia 3. Em meu terceiro dia, fiz um passeio que as agências chamam de Tour pela Zona. Só que em vez de ir com agência eu fui de ônibus de linha. As tarifas dependem de onde se vai descer do ônibus. Minha primeira parada foi Ojos de Caburgua, e paguei CLP $ 700,00. O local fica a 20 km de Pucón. A tarifa de entrada é de CLP $ 1.500,00.
Porém, existem duas propriedades que tomam conta do local, cada uma de um lado do rio. O ônibus me deixou na primeira entrada (de quem sai de Pucón), mas a primeira decepção é que o local só funciona das 10h às 19h, então cheguei às 9h e tive que ficar esperando por 1 hora.
Quando finalmente entrei, percebi que o lado mais bonito, na minha opinião, é o da outra margem (minha segunda decepção), então se eu quisesse, teria que sair, andar pela rodovia (4 km no total) e pagar a entrada de novo. Então minha DICA é: peçam para o ônibus deixar na segunda entrada (para quem está vindo de Pucón).
Os Ojos de Caburgua são um conjunto de poços e cachoeiras num rio de águas cristalinas e azuladas. Porém, sei que sou a única pessoa na face da terra que não gostou do lugar. Se você já viu um certo número de cachoeiras na vida e já foi para lugares com Bonito (MS), por exemplo, talvez não goste dos Ojos de Caburgua. Ainda mais que não se pode nadar lá, só olhar.
Saindo de lá voltei à rodovia e peguei o próximo ônibus em sentido ao lago Caburgua, e pedi para descer na Playa Negra. Saindo de lá, caminhei uns 20 minutos até a Playa Blanca. As duas praias são quase urbanizadas, cheias de guarda-sois e vendedores. Saindo de lá voltei a Pucón para pegar meu ônibus para Temuco e ir embora.
Eu gostaria de ter trocado esse meu terceiro dia por um outro roteiro, o Salto El Claro, com 80 metros de altura e a apenas 7 km de Pucón. Dizem que é bem agradável alugar uma bike e pedalar até ele.
Faltou eu fazer um passeio que se chama Cuevas Volcanicas, que são cavernas formadas pela lava do vulcão. Também não fiz o rafting no rio Liucura. Há muitas outras cachoeiras na região que parecem ser bem legais, como o Salto La China e o Salto El León, perto das termas Palguin. Fora isso, algumas pessoas fazem um bate-volta para a reserva biológica Huilo Huilo, que parece um local muito interessante que quero voltar para conhecer.
Porém, posso dizer que meu objetivo foi totalmente cumprido, pois subi o Vulcão Villarricaaaaaa!!!! Pucón é um encanto de cidade, ficaria fácil só curtindo um verão lá indo nas cachoeiras e praias de lago, e fazendo as inúmeras trilhas, um lugar que com certeza voltarei.