Sempre desejei visitar as grandes cataratas do mundo, apesar de minhas preferidas serem as de Foz do Iguaçu (leia meu roteiro de Foz aqui). Porém, as Victoria Falls estavam em segundo lugar na minha lista de desejos. Isso porque são consideradas a maior queda d’água do mundo, distribuídas em um cânion com 1,7 km de extensão, altura variando de 61 a 128 metros e volume d’água de 1 milhão de litros por segundo. A média dessas medidas faz essas cataratas serem consideradas a maior do mundo.
Localmente são conhecidas como Mosi-oa-Tunya, que significa “a fumaça que troveja”. Porém, o nome Victoria Falls deve-se ao descobrimento das cataratas pelo explorador britânico David Livingstone em 1855, homenageando a rainha Victoria, que ocupou o trono do Reino Unido até 1901.
Qual lado visitar?
Assim como as cataratas de Foz do Iguaçu, as Victoria Falls também estão divididas entre dois países, no caso a Zâmbia e o Zimbábue. Então você pode escolher visitar o lado Zam, o lado Zim, ou os dois, como fiz.
A diferença é que do lado Zam você está mais próximo das cataratas, podendo inclusive nadar nelas no passeio conhecido como Devil’s Pool. Neste lado você acessa 4 mirantes para as cataratas. Já no lado Zim a vista é melhor, com 16 mirantes, podendo, assim, visualizar 75% da queda. Eu achei a vista dos dois lados interessante. Geralmente as pessoas aconselham a visitar o lado do Zimbábue se você puder escolher somente um deles. Porém, esta pessoa que voz fala gostou muito do lado da Zâmbia! Conheça os dois!
Do lado do Zimbábue a cidade, chamada Victoria Falls, é um pouco mais turística e menor. Do lado da Zâmbia a cidade se chama Livingstone, bem maior que a vizinha, uma cidade africana menos turística por ser maior, então talvez se absorva mais da vida cotidiana do país.
A Victoria Falls Bridge é a ponte que divide os dois países, e você pode cruzar a fronteira sobre o Rio Zambezi andando cerca de 1 km, e assim é possível visitar os dois lados das cataratas facilmente.
Como visitar?
Os dois lados contam com aeroportos. Geralmente as Victoria Falls são visitadas em viagens que englobem outros locais da África, pois cerca de 3 dias são suficientes para os principais passeios da região. Isso também porque o turismo lá é bem caro, com passeios todos em dólar.
Eu conheci as Victoria Falls em meio a uma viagem à África do Sul, chegando por voo em Livingstone e ficando 4 dias. Considere que em 1 dia completo você poderia visitar as cataratas pelos dois lados, meio período para cada um.
Vistos de entrada
Você vai precisar de vistos para os dois países. Se for visitar os dois lados, lembre-se de levar o passaporte para cruzar a fronteira. Caso vá somente até a ponte para visualizar o Rio Zambezi lá de cima, ou para fazer Bungee Jumping, avise no posto da alfândega seu propósito, pois somente para isso não é necessário carimbar sua saída do país.
O visto de entrada simples no Zimbábue custa 30 dólares, e o de duas entradas, 45 dólares. Para informações sempre atualizadas de valores, bem como requisitos de entrada, consulte este site. Se você estiver no Zimbábue e for apenas passar o dia na Zâmbia pode pegar o visto Day Tripper para esse dia, que custa 20 dólares. Exemplo: se for ficar só no Zimbábue pegue o visto simples (1 entrada e 1 saída). Se for passar o dia na Zâmbia, precisará pegar o visto de dupla entrada e mais o visto Day Tripper.
No caso da Zâmbia, o visto de entrada simples custa 50 dólares e o de entrada dupla, 80 dólares. Para informações sempre atualizadas de valores e requisitos de entrada, consulte este site.
Além dessas opções, na Zâmbia existe também o Kaza Visa, que custa 50 dólares e permite entradas ilimitadas entre Zâmbia e Zimbábue. Como eu ia cruzar essas fronteiras várias vezes escolhi esse visto, de preço único de 50 dólares. Para entender como funciona, acesse este site. Ou seja, o Kaza Visa fica mais barato do que o visto de duas entradas na Zâmbia, por isso é sempre a melhor opção.
Ao pesquisar nos 3 links anteriores fiquei em dúvida se posso obter o Kaza Visa no Zimbábue (apesar de o último link falando sobre ele dizer que estaria disponível sim nesse país). Como no link que fala sobre a Zâmbia o Kaza Visa aparece na tabela de opções de visto, isso determinou que minha entrada seria por esse país. Porém, se for entrar pelo Zimbábue e só passar o dia na Zâmbia (custo total de 65 dólares), pergunte se eles teriam o Kaza Visa disponível (custo de 50 dólares).
A Botswana, o terceiro país fronteiriço da região, não exige o pagamento de visto. Os vistos devem ser pagos em dinheiro e podem ser obtidos tranquilamente no momento de chegada ao país.
Quando ir?
Em dezembro tem início a temporada de chuvas, então considere que mais ou menos de janeiro a maio a queda estará mais cheia e mais bonita. Porém, o spray de água pode atrapalhar as fotos. De maio a junho talvez esteja com água demais, o que não seria tão favorável para as fotos. Entre outubro e dezembro, talvez as cataratas estejam quase secas do lado da Zâmbia; no entanto, do lado do Zimbábue elas nunca secam, podem ser visitadas o ano inteiro. Portanto, considere visitar entre julho e novembro.
Caso vá fazer o passeio das Devil’s Pool, aquele em que se nada nas cataratas, é necessário que estejam mais vazias, considere que isso é possível entre agosto e dezembro (em média, pois depende das chuvas). Quando a Devil’s Pool está fechada, existe a possibilidade de a Angel’s Pool estar aberta. Esta é um tanto menor, e numa região mais segura caso o nível de água esteja muito alto e impossibilite a Devil’s Pool.
Eu visitei o local em dezembro e consegui fazer todos os passeios e com bom nível d’água.
Dados práticos
A moeda oficial do Zimbábue é o dólar. Já na Zâmbia, a moeda é o Kwacha (ZMK). Porém, nem vi a cor do dinheiro! Absolutamente tudo que paguei foi em dólar.
Tanto no lado Zim quanto no lado Zam encontrei opções em conta e satisfatórias de hospedagem. Me hospedei somente na Zâmbia.
Do centro da Zâmbia ou do centro do Zimbábue, será necessário pegar um táxi até a entrada do parque onde ficam as cataratas, e isso custa geralmente uns 10 dólares. Atente-se aos táxis escolhidos, combinando o preço antes, fique esperto! Eu encontrei um taxista que gostei no primeiro dia, e pedi o contato dele para fazer todos os meus transportes pelo país nos outros dias.
Fui sozinha. Achei todos os lugares por onde passei seguros, mas não quis andar à noite por precaução. Não senti nenhum preconceito ou olhar diferente por ser uma mulher sozinha viajando na região.
Minha trip
Eu fui com uma listinha dos passeios que queria fazer. Meses antes de minha chegada ao país, contatei minha hospedagem a respeito dos tours desejados e me disseram que eu poderia falar com eles uns 15 dias antes para reservar os passeios. Então, conforme orientado, esperei. Mas quando deu 15 dias antes, entrei em contato e, para minha surpresa, não havia mais vaga no passeio que mais queria: a Devil’s Pool, que é concorridíssima.
Fiquei muito transtornada e expressei minha indignação com minha hospedagem. Por minha sorte, uma amiga querida havia visitado o Zimbábue meses antes e me passou o contato de uma agência ótima: a Shearwater. Apesar de eu estar com hospedagem na Zâmbia e a agência se localizar no Zimbábue, me atenderam prontamente e resolveram meu maior problema.
Realmente 15 dias antes não havia mais vagas para reservar a Devil’s Pool. Porém, fizeram algo incrível demais por mim: saíram telefonando para todos os clientes agendados para as datas que eu estaria lá a fim de confirmar se realmente iriam para o passeio. E, para minha sorte, houve uma desistência justo no meu último dia no país. Reservei o tour prontamente, assim como meus outros tours com eles.
Conclusão 1: independente do que digam, reserve sim seus passeios na região com antecedência. Os passeios são concorridos, principalmente a Devil’s Pool, pois são só 80 vagas por dia!
Conclusão 2: indico totalmente a agência Shearwater, que teve tanta boa vontade para me ajudar a realizar um sonho!
Para visitar os parques das cataratas não é necessário reservar, você pode comprar as entradas na hora.
Os passeios
A região oferece diversas opções, e acho que praticamente ninguém chega a fazer todos os tours, principalmente porque todos são beeeem caros e em dólar. Os valores são semelhantes nas empresas que pesquisei. Veja os preços atualizados no site da Shearwater.
Algumas opções de tour:
– visitar as cataratas do lado Zim (Victoria Falls National Park): a tarifa de entrada é de 30 dólares. O parque abre entre 06h e 06h30 e fecha às 18h. Considere meio período para isso. Você pode pagar a entrada em dinheiro ou cartão de crédito.
– visitar as cataratas do lado Zam (Mosi-oa-Tunya National Park): a tarifa de entrada é de 20 dólares. O parque abre às 06h e fecha às 18h. Considere meio período para isso.
– safári no Chobe National Park, na Botswana. Passeio de dia inteiro.
– rafting no Rio Zambezi: inicia bem cedo e termina no meio da tarde.
– Devil’s Pool: nadar na borda das cataratas. Considere meio período.
– cruzeiro pelo Rio Zambezi: bem popular para ver o por do sol.
– canoe: uma espécie de passeio de caiaque.
– sobrevoo de helicóptero nas cataratas.
– bungee jump da Victoria Falls Bridge: salto de uma altura de 111 metros numa belíssima paisagem.
Esses são os principais passeios, mas há alguns outros ainda. A maioria não é de dia inteiro, e se quiser pode programar mais de um por dia. Na época que fui, só o safári no Chobe (176 dólares), o rafting (120 dólares) e a Devil’s Pool (105 dólares) deram 400 dólares!!! Isso fora a entrada nos dois lados das cataratas, feita de forma independente. Agora você entende como é caro e é bom escolher com sabedoria o que fazer na região?
Meu roteiro escolhido foi:
– Dia 1: voo a Livingstone de manhã e chegada na hora do almoço. Visitei as Victoria Falls do lado da Zâmbia.
– Dia 2: safári no Chobe National Park.
– Dia 3: rafting no Rio Zambezi e Victoria Falls do lado do Zimbábue.
– Dia 4: Devil’s Pool de manhã. Hora de ir embora: voo na hora do almoço.
Meu relato
Primeiro dia: Victoria Falls lado Zam
Em meu primeiro dia, eu só tinha meio período. Após entrar no parque do lado da Zâmbia visualizei o mapa e passei por todos os pontos de mirante. Apesar de ter menos vistas que do lado Zim, o lado Zam também tem pontos muito bonitos! O meu preferido foi uma escadaria que desce até o leito do rio, e vê-se a ponte sobre o Rio Zambezi mais de perto por baixo. Na saída aproveitei para dar uma primeira conferida na vista de cima da ponte, na fronteira entre os dois países.
Segundo dia: safári no Chobe National Park, na Botswana
No segundo dia a agência me buscou para fazer o safári no Chobe National Park, na Botswana. O passeio incluiu todos os transportes de ida e volta, o safári e as refeições.
Após passar as fronteiras e fazer os trâmites todos, pegamos um rápido barquinho e depois uma van até um hotel que funcionou como ponto de apoio e onde seria o almoço. O Chobe também fica perto das fronteiras da Namíbia.
Eu já tinha tido a experiência de safári na mesma viagem dias antes, no Kruger National Park, na África do Sul (que ficará para outro relato). Portanto, já tinha visto os Big Five e todo tipo de animal. Porém, o que me surpreendeu no Chobe foi a natureza exuberante e as belas paisagens.
Nesse parque é obrigatório o 4×4 por causa das estradas, todas bem irregulares e de terra. Entramos no carro do safári e após pouco tempo vi de perto muitos búfalos, elefantes, girafas, antílopes e até alguns leões. É fascinante ver os animais livres no habitat deles! Essa etapa durou cerca de 3 horas.
Depois de almoçar, seguimos para a segunda parte do safári, um passeio de barco pelo Rio Chobe. Pude ver de perto muitos hipopótamos e crocodilos. O tour de barco também durou cerca de 3 horas. Achei interessante o barco por ver os animais de outra perspectiva, diferente da que já tinha visto de carro. Depois do safári fizemos todo o retorno para a Zâmbia no fim do dia.
Terceiro dia: rafting + Victoria Falls lado Zim
Em meu terceiro dia parti cedinho até a fronteira, para encontrar, do lado do Zimbábue, o guia para o rafting. Esse é um dos raftings conhecidos como um dos mais emocionantes do mundo.
Na agência, os guias reforçaram bem as explicações sobre a segurança no geral. Seguimos para o rio Zambezi e fizemos uma pequena caminhada, já equipados com o colete e o capacete, e portando o remo. Chegando ao leito do rio os botes nos esperavam. Havia muitos botes da mesma agência, com muitos turistas. Os guias explicaram novamente os comandos usados para remar e sobre a segurança no rio. O que mais me surpreendeu foram os imensos paredões do canyon, uma paisagem lindíssima!
O nível de dificuldade das corredeiras varia entre o III e o V, o que é um tanto difícil para iniciantes. Meus amigos que fizeram esse mesmo rafting meses antes amaram e não caíram na água nenhuma vez. Já meu barco virou 5 vezes! Eu já fiz alguns raftings no Brasil, sempre no máximo nível III. Porém, me apavorei um pouco e após algumas quedas já estava muito assustada! Por isso a aventura foi um tanto cansativa para mim. Então, aconselho esse rafting para os mais aventureiros, eu não faria novamente.
Após o término do rafting tivemos de subir uma escadaria de 250 metros para o ponto do almoço e onde os carros nos esperavam para ir embora.
Eu havia me certificado do horário de término da aventura, e aproveitei que estava do lado do Zimbábue para conhecer este lado das cataratas. Entrei no parque e visualizei o mapa dos 16 mirantes. Realmente a vista desse lado é impressionante, é quando se vê de frente a queda, tendo uma noção melhor da imensidão das Victoria Falls. Dos dois lados das cataratas, prepare-se para alguns pontos em que você vai se molhar com o spray de água das fortes quedas. Também dos dois lados a caminhada dentro do parque é bem tranquila.
Quarto dia: Devil’s Pool
Em meu último dia foi o momento de conhecer a Devil’s Pool, passeio tão difícil de reservar. O passeio ocorre do lado da Zâmbia, onde eu estava, e se inicia em um hotel. Ele é intermediado pela agência Tongabezi.
A famosa piscina fica no topo das Victoria Falls, bem em sua borda, a 100 metros de altura, na Livingstone Island. É uma das piscinas naturais mais assustadoras do mundo, e uma experiência única! É preciso ter coragem para nadar até a beira desse precipício, porém, não é realmente perigoso. Como expliquei antes, só dá para fazer esse passeio quando o nível do rio está baixo, pois assim a piscina não oferece risco para os turistas. Isso porque existe uma cavidade na rocha, que forma um paredão de pedra mais profundo do que a borda, criando a piscina em si. Além disso um guia acompanha os turistas na borda, para qualquer problema.
Fomos já com roupa de banho por baixo, e atravessamos até a ilha com um barquinho. Deixamos nossas coisas onde seria o café da manhã incluído depois da aventura.
Entramos na água e foi preciso nadar um trecho não muito longo do rio, mas tudo com o auxílio dos guias. Chegando ao local da piscina, um por um nadou até a borda da Devil’s Pool, onde o guia nos esperava para nos amparar. Foi bem tranquilo! O outro guia aguardava do lado oposto com minha câmera.
Aquele paredão com as cataratas formando um arco-íris me impressionou! Foi uma emoção enorme estar ali, e não tive medo em momento algum, realmente pareceu bem seguro. Pena que foi um momento curto, pois havia outros turistas no grupo, mesmo que pequeno, aguardando para ter a experiência. Depois das fotos retornamos até o local, onde provamos um café da manhã bem chique.
Conclusão sobre o passeio: para mim, valeu cada minuto dessa experiência hiper diferente. Porém, achei rápido demais, o que torna o passeio um pouco comercial, no estilo “tire sua foto e saia”. Ainda assim acho que vale muito a pena! É uma experiência única e com um visual incrível!
Amei conhecer as Victoria Falls. A região oferece passeios mais tranquilos ou com mais adrenalina, dependendo da escolha do visitante. Realmente há opções para todos os gostos! Além da imensa beleza das cataratas o local me proporcionou fortes emoções, e guardo as lembranças dessa trip com carinho! Aconselho a todos conhecer as Victoria Falls!